sábado, 14 de fevereiro de 2015

The Circle - Privacidade é roubo



Acabei de ler The Circle do Dave Eggers e apesar da leitura sem um pouco maçante em alguns pontos, com partes exageradamente descritivas, é uma leitura que recomendo a todos que vivem no mundo digital.

O Círculo é o que podemos chamar de próxima super empresa .com. Aquela que vai desbancar o Google e o Facebook e monopolizar toda a informação, a princípio visando o bem da humanidade mas no fim apenas por caprichos capitalistas.

A história é contada a partir da ótica de Mae Holland, que consegue um emprego no Círculo com a ajuda de sua amiga de faculdade Annie que é uma figura muito respeitada dentro da hierarquia da empresa.

No começo é tudo como um sonho, o campus do Círculo é o melhor retrato do que conhecemos hoje como Vale do Silício, centro de inovações e acima de tudo um lugar que se importa com seus funcionários, que valoriza o potencial humano, com academias, festas, creches, dormitórios e todo suporte para que seus funcionários não só trabalhem mas vivam a vida do campus.

O sucesso da empresa começa com o TruYou, uma plataforma que centraliza todas as informações das pessoas, seus documentos, suas informações bancárias e seu arquivos, todos na nuvem. Assim não existe mais a possibilidade do anonimato nas redes. Cada perfil virtual pertence a uma pessoa real com identificação única.

As ideias fomentadas no Círculo são boas, chips implantados em crianças que irão reduzir os sequestros, plataformas de vídeo que transmitirão ao vivo imagens em alta resolução de todos os lugares da terra e até serviços públicos sendo unificados por uma plataforma. Nada mais de sistemas precários do governo para habilitação, votação e impostos.

Tudo centralizado por uma empresa privada de alta tecnologia.

Porém trabalhar no Círculo não é o bastante, você tem que tornar a sua vida parte do Círculo. Seu trabalho depende não só de suas atividades dentro da empresa, mas do quanto você compartilha sua vida fora dela através das plataformas disponibilizadas pela empresa.

Em certo ponto do livro, Mae chega a ser chamada a atenção por não compartilhar e nem tirar fotos mostrando que tinha ido andar de caiaque. Segundo o ideal do Círculo, privacidade é roubo, quando você torna sua vida privada, está roubando das outras pessoas o acesso a informação.

Quem não deve não teme, e para o bem da humanidade, todos deveriam compartilhar tudo com os outros. 

Uma das inovações do Círculo é a chamada Transparência, onde as pessoas andam com câmeras no pescoço que transmitem 24 horas as imagens do seu dia. 

Alguns políticos aderem a essa ideia e para provar sua honestidade passam a adotar esse principio e transmitir todas as suas ações para o povo. (considerando o momento que vivemos no Brasil seria muito útil ter um Big Brother dos nossos políticos).

Mas pensando racionalmente, ter sua vida online 24 horas não é lá uma coisa muito boa. E o mais incrível é que as pessoas fazem isso por que querem, assim como usamos as redes sociais e compartilhamos alguns aspectos da nossa vida porque queremos e não porque somos obrigados.

Se eu contar mais do que isso vai ser spoiller, mas eu recomendo a leitura porque as consequências de tudo isso são bem inesperadas.

Fica a reflexão de algo que pode ser o nosso futuro bem próximo, sabemos que nossas informações estão armazenadas por aí (e porque nós fornecemos de bom grado). Mas qual é o limite dessa posse de informações e também do consumo.

No Círculo os funcionários trabalham com 6 telas (isso mesmo 6 TELAS) para estarem atentos a todos os acontecimentos, mas esse bombardeio de informações não é nada saudável, além do fato de que os funcionários são avaliados não só pelo desempenho das suas atividades mas também pela sua participação nas redes sociais, presença nos eventos e compartilhamento da sua vida.

Imagem o que acontece quando uma empresa privada detêm o controle de todas as informações do mundo, o que no livro um dos próprios fundadores do Círculo chama de monopólio tirânico.


Termino o texto com essas 3 frases do Círculo: "segredos são mentiras", "compartilhar é cuidar", "privacidade é roubo" e continuo refletindo sobre a vida online e offline e o que o futuro nos reserva quando a privacidade e a neutralidade da rede.


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