domingo, 15 de março de 2015

Lean In & o Mês da Mulher



O mês de março é considerado do "Mês das Mulheres", temos até um dia específico para comemorar (dia 8) e, especialmente, nesse março de 2015 vi uma série de publicações falando sobre a Mulher do mercado de trabalho, os preconceitos que ela ainda enfrenta e como precisamos de mais líderes do sexo feminino dirigindo nossas empresas.

No mercado de TI, do qual faço parte, isso fica extremamente nítido em dois pontos: temos menos mulheres que homens (isso é um fato), e por ter menos mulheres que homens, algumas pessoas justificam que é porque essas mesmas mulheres não são capazes (quem nunca ouviu isso?).

Encontrei algumas estatísticas de 2013 que tem alguns dados interessantes:
  • uma mulher que trabalha em computação/matemática ganha 84 cents para cada 1 dólar que um homem na mesma ocupação ganha;
  • a força de trabalho do Google é formada 30% por mulheres; no Facebook são 31%, no Yahoo 37% e no Linkedin 39%;
  • nas Startups do Vale do Silício, apenas 12% dos engenheiros são mulheres;
O post tem outras estatísticas, mas acredito que por essas 3 que eu citei já podemos ter noção do que estamos falando.

Dada toda essa movimentação em torno do assunto, li 2 livros que me me fizeram refletir sobre algumas coisas e vou compartilhar com vocês.

O primeiro livro foi o Lean In: Women, Work, and the Will to Lead da Sheryl Sandbarg, Chefe Operacional do Facebook desde 2008 e considerada a 10ª mulher mais poderosa do mundo pela Forbes.

Pra quem não leu o livro, segue um TED Talks dela de 2010: "Por que temos tão poucas líderes"


No livro, Sheryl fala de questões que ainda mantêm as mulheres "longe" dos cargos mais altos nas empresas e até mesmo de uma carreira profissional.

Apesar de termos alcançado direitos civis básicos (lembrando que ainda existem mulheres no mundo que não os tem), a tão aclamada igualdade ainda é um sonho. 

Segundo dados que ela mostra no livro, de 197 chefes de estado, apenas 22 são mulheres. Só 21 empresas entre as 500 com a maior receita, segundo a revista Fortune, são comandadas por mulheres. Nos Estados Unidos, apenas 18% dos congressistas são mulheres.

Alguns outros dados mostram que homens são promovidos pela sua capacidade, enquanto as mulheres devem provar primeiro, ou seja, mostrar resultados, para ser promovidas.

O livro causou um pouco de polêmica, como podemos ver nesse texto 10 frases polêmicas da chefe do Facebook, Sheryl Sandberg, mas o que mais me chamou atenção foram atitudes que eu (e muitas mulheres) tem e que muitas vezes refreiam nosso potencial.

Enfrentamos muitos percalços, mas existem ações nossas que podem ajudar a mudar isso. São posicionamentos e ações que aprendemos desde pequenas e que nos atrapalham no mercado de trabalho.

Nós, como mulheres, também precisamos mudar.

Lições aprendidas


Na palestra do TED (e no livro), ela fala de 3 lições que eu compartilho com vocês:

Sente-se a mesa:


As mulheres subestimam sua capacidade em algumas situações, eu vi um post no Facebook ontem que dizia que os homens se candidatam a uma vaga de emprego mesmo quando atendem a apenas 30% dos pré-requisitos, enquanto as mulheres ficam inseguras e não se candidatam nem quando são qualificadas, porque acham que não preenchem algum pré-requisito (eu já fiz isso inúmeras vezes). Mesmo quando o RH faz contato com essas mulheres, elas dizem que não são qualificadas o bastante.

A Sheryl conta uma história de uma prova da faculdade, onde ela e uma amiga estudaram muito e mesmo assim, ao sair da prova achavam que tinham ido mal. Enquanto o irmão dela, que não tinha ido as aulas e estudou muito pouco, saiu dizendo que tinha tirado a maior nota. No fim, os 3 tiraram a mesma nota.

Outra história que ela conta é de uma palestra que ela deu no Facebook. Depois dessa palestra, uma das mulheres que havia assistido disse que aprendeu uma coisa muito importante: manter a mão levantada. No final da palestra a Sheryl disse que ia responder mais 2 perguntas, depois disso, todas as mulheres abaixaram as mãos e os homens continuaram com as mãos levantadas e ela respondeu mais algumas perguntas.

No fim, as mulheres não se acham dignas de "se sentar a mesa" e acabam perdendo oportunidades por causa disso. Não devemos subestimar nossa capacidade. É o que eu sempre digo, não somos homens nem nunca seremos, mas somos tão intelectualmente capazes quanto qualquer um deles, e devemos ter essa posição.

Faça do seu companheiro um companheiro de verdade:


Esse tópico é para as mulheres que vivem com seu companheiro e tem filhos. Ainda vivemos numa sociedade que acha que as tarefas domésticas são responsabilidade da mulher (por isso as meninas ainda brincam exclusivamente com bonecas e casinhas). Eu sei que muita coisa já mudou, mas ainda existem pessoas com esse pensamento.

Se a mulher quer investir na sua carreira, ela e seu companheiro tem que aprender a dividir as tarefas. Senão só a mulher fica com uma jornada dupla e sobrecarregada.

Muitas mulheres desistem da carreira profissional por causa da criação dos filhos, mas esquecem que as crianças tem pai e mãe e ambos são responsáveis. Tudo é questão de parceria, se a mulher tem uma reunião até mais tarde, o homem pode muito bem se organizar para sair mais cedo e pegar as crianças. Eu não sou mãe, mas conheço muitas e sei que dói trabalhar o dia todo e deixar as crianças em casa, mas se você realmente gosta do que faz vai conseguir se organizar para ter as duas coisas.

Não temos que escolher entre família e carreira. Podemos ser o que quisermos.

"Na hora de se assentar, encontrem alguém que queira uma companheira igual. Alguém que pense que as mulheres devem ser inteligentes, ambiciosas, ter opiniões próprias. Alguém que dê valor à justiça e espere ou, ainda melhor, queria fazer sua parte no lar."

Não saia antes de sair:


Esse ponto está relacionado ao anterior. Algumas mulheres deixam de aproveitar oportunidades pensando no futuro da família. Quando começam a pensar em ter um filho, por exemplo, elas param de buscar novas oportunidades e até mesmo de aceitar promoções.

Uma coisa que ela fala e eu achei muito interessante, é que quando você tem um filho e precisa voltar para o trabalho, se esse trabalho não for extremamente estimulante, você não vai voltar.

Então deixe para pensar nessas coisas quando estiver na licença maternidade, mas não anos antes. Não pare seu crescimento profissional pensando que daqui a 5 anos quando você quiser ter um filho, não vai poder participar de uma reunião em outro país. 


Lendo esse livro, eu percebi várias ações do meu dia que me refreiam profissionalmente. 

Eu sei que enfrentamos muita desigualdade ainda e que precisamos lutar contra isso, mas também existem atitudes nossas que precisamos mudar.

Quantas vezes você já não deixou de tomar uma atitude com medo do que os outros iam pensar sobre você? Quando uma mulher é mais enérgica, sempre aparecem piadinhas do tipo "ela está de TPM", "está precisando de um namorado", e outras extremamente injustas e sexistas. E não são só os homens que fazem esse tipo de coisa, algumas mulheres também agem assim em detrimento de suas colegas de trabalho. 

Precisamos reeducar não só os homens, mas as próprias mulheres nesse sentido.

Cinderella Ate My Daughter


Acredito ser um tema extremamente complicado, e eu já parei pra pensar sobre isso várias vezes: como eu vou criar uma filha para que ela cresça e seja capaz de fazer o que quiser?

A autora Peggy Orenstein é jornalista e fala nesse livro sobre como nossa cultura do consumismo e das "princesas" tem influenciado as nossas meninas.

Nesse artigo de 2006 What’s Wrong With Cinderella?, ela conta como em todos os lugares que ia com a filha as pessoas a chamavam de "princesa" e davam coisas rosas, como balões por exemplo, ao invés de deixar a menina escolher. 

Como eu citei, é um tema bem complicado. Fomos criadas com essa imagem de que existe cor de menino e de menina (pra quem não sabe, tudo isso é jogada de marketing), brinquedos de menino e de menina, atividades e profissões de menino e menina entre outras coisas.

Lendo esse livro, eu tive alguns insights de coisas que não tinha percebido antes.

Por exemplo, eu assisti A Pequena Sereia quando era pequena mas nunca tinha parado pra pensar que ela trocou a sua voz (A SUA VOZ) para ficar com o Príncipe Eric. Você já pensou nisso? Será que muitas mulheres calam a sua voz hoje para que os homens possam ter a "palavra final" por causa da que viram na Pequena Sereia? (não estou afirmando isso, até porque não tem estudos que relacionem uma coisa a outra, é só uma reflexão).

Existem outros pontos que observamos nos Contos de Fadas que as meninas costumam ouvir quando pequenas: a posição passiva de esperar que um príncipe chegue, se apaixone por sua beleza (sempre é a beleza) e resolva todos os problemas; a necessidade de ter uma fada madrinha para ajudar já que as princesas não conseguem tomar determinada atitude sozinhas; o final feliz onde aquele príncipe que resolveu o problema vai cuidar da princesa pro resto da vida.

Outros pontos citados no livro se referem a como tratamos os meninos e as meninas, ao se referir a um menino se diz como ele é inteligente, quando é uma menina dizem o quanto ela é bonita; como os meninos pequenos são incentivados a explorar o mundo (querem ser bombeiros, super heróis e tigres) e as meninas a feminilidade (querem ser princesas, fadas, borboletas).

Uma parte que eu achei muito interessante foi sobre os Concursos de Beleza Infantis, onde as meninas se vestem como verdadeiras princesas para disputar um prêmio pela sua beleza, nada mais que isso, apenas a beleza. E a autora compara esses concursos as cortes da Europa de 1800 onde princesas pequenas eram arrumadas com as melhores roupas e maquiagem para atrair potenciais maridos (geralmente homens de meia idade) a fim de que seus pais conseguissem acordos políticos e financeiros. (a diferença é que não estamos mais em 1800 né galera?)

Enfim, eu gostei das reflexões do livro, mas o assunto é bem complexo, principalmente se pararmos para pensar como mães de menina (será que é saudável que minha filha assista Pequena Sereia ou isso não tem nada haver?). Mas é uma forma de pensarmos em maneiras melhores de criar nossas meninas para que elas cresçam e tenham uma ótima carreira.


Pra encerrar, um texto muito legal do BuzzFeed As indicadas ao Oscar deram respostas perfeitas para perguntas sexistas, onde atrizes talentosas respondem as perguntas extremamente idiotas que se referem apenas a sua beleza e não ao seu talento e potencial.

Para as meninas de TI, segue uma pesquisa sobre Sexismo na nossa área que a Fla Fortes (@FlaFortes) e a Jac Abreu (@JacAbreu) estão conduzindo.

Temos um longo caminho pela frente, mas são pequenas ações que vão nos levar a um novo patamar. Mude seus conceitos como mulher e não deixe que outras pessoas façam pouco caso de você e de suas realizações. 

Você pode ser o que quiser, mas não sem enfrentar obstáculos, então mantenha-se sentada a mesa.

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